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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eu queria falar sobre você pro padeiro, pro cheff que faz meu risotto no almoço, pro motorista do meu pai, pro espelho, pra minha mãe, pro mundo. Eu só tinha… que falar de você. Mesmo que falar de você não seja o mesmo que falar com você...

AUSÊNCIA


 
"Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a branca, tão pegada, aconchegante nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
 
Carlos Drummond de Andrade
 

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O impossível é o sobrenome do medo

"Perdemos mais tempo arrumando desculpas do que vivendo.
Perdemos mais tempo adiando do que aceitando a dificuldade.
Perdemos mais tempo explicando a desistência do que enfrentando o sim.
Eu garanto que a fuga dá mais trabalho do que se encontrar. Porque estaremos longe, mas com saudade. Porque estaremos protegidos, mas vazios. Porque estaremos aliviados, mas entediados.
A vida é simples, milagrosamente simples.
A esperança é firmeza. Consiste em seguir adiante mesmo com pânico, mesmo com receio.
Não há como acalmar o coração senão vivendo.
Parece que nunca conseguiremos fazer, mas vamos fazer, acredite, toda a vida foi feita de sustos bons.
Somente tememos o que é importante. Somente temos dúvidas do que é essencial. Somente entramos em crise por enxergar com clareza a dimensão de nossa escolha.
Os riscos valorizam a recompensa.
Viver não é para solitários. Sempre tem alguém nos chamando para nos acompanhar no perigo.
Eu pensei que nunca percorreria o corredor de minha infância caminhando, mas o vô me esperava do outro lado. Eu caí e ele me levantou com suas mãos de regente.
Eu pensei que nunca me manteria equilibrado numa bicicleta, mas meu pai fingiu que segurava a minha garupa e pedalei de olhos fechados com o vento me guiando.
Eu pensei que nunca aprenderia a ler e a escrever, mas a letra da minha mãe foi a escada para as histórias.
Eu pensei que nunca teria uma namorada, mas o beijo veio distraído no recreio da segunda série.
Eu pensei que nunca conseguiria nadar, mas os braços foram se revezando até atravessar a piscina.
Eu pensei que nunca passaria no vestibular, mas sacrifiquei noites e pesadelos para um lugar na faculdade.
Eu pensei que nunca teria filhos, eu pensei que nunca dividiria a casa com alguém, eu pensei que nunca seria dependente do olhar de uma mulher, eu pensei que nunca teria dinheiro, eu pensei que nunca seria feliz.
Eu pensei, mas fui fazendo. Fazendo. Fazendo.
O impossível é apenas o sobrenome do medo.
Você acha que somos impossíveis, mas é do impossível que o amor gosta.
O impossível é inesquecível.
O impossível é o possível repartido. O impossível é o possível a dois."
 
 
Fabrício Carpinejar

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

E se...

Sempre detestei os "e se´s" da vida, e se, e se, e se...
Nunca fui dessas que se contentava com ele, sempre fiz acontecer até o "se" não existir mais...
Seja o depois bom ou ruim, as consequências fáceis ou difícies, eles nunca me assuntaram.

Só que agora é diferente, existe um "e se" que me corrói, que me angustia.
Em outras épocas, minha juventude irresponsável resolveria isso em minutos, hoje não.

Que saco ser adulta!
Desculpe a expressão, mas é "que saco mesmo"!

As responsabilidades que nos são impostas, e as consequências de nossas escolhas machucam, ferem e decepcionam.
Como era bom quando ninguém esperava nada da gente, o que fazíamos era lucro, hoje não.

Expectativas que criamos e expectativas quem caem sobre nós, consequências duras.
Não quero.

Nunca pensei que fosse dizer isso, mas existem certos momentos em que simplesmente me falta coragem.
Logo eu, que sempre dizia ser corajosa e forte...
Hoje me falta coragem.

Quem sabe um dia ela volta ou quem sabe eu terei que aprender a viver sem ela... Vai saber...

Viajar no Tempo

 
 
"Tem gente que acha impossível viajar no tempo. Não consigo acreditar, nem entender.
Gente assim, ao que me parece, nunca deve ter sentido cheiro de bolo saindo do forno, porque, para mim, essa é a chave da passagem secreta para voltar à infância.
Gente assim nunca deve ter ligado o rádio do carro, do nada, voltando do trabalho e começado a sorrir, pelo simples fato de que estava tocando a música do seu primeiro beijo. Da valsa de quinze anos. Da primeira fossa. A música que não saia do “repeat” e faz a gente sorrir, pelo simples fato de ter sido a trilha sonora de mágicas férias na praia.
Gente assim nunca viu retrato de família, com vô, vó, cachorro, gato, coelho, passarinho e 367 primos e tios que fizeram uma farra inesquecível, com churrasco e piscina até o sol se por. Daquelas farras de deixar o cabelo duro de tanto cloro, os olhos vermelhos e a vida tão, tão, tão melhor.
Gente assim nunca recebeu abraço de recomeço, porque esse abraço é capaz de apagar, instantaneamente, meses sem conversar e sem se olhar direito, um abraço mágico que faz os últimos 5, 7, 10 ou 20 anos sumirem, num piscar de olhos e sem nenhum “abracadabra”.
Gente assim não sabe o que é reencontrar amigos e, no meio da garrafa de vinho, ter a certeza inabalável, a visão nítida e clara, de que os próximos encontros, pelos próximos 20 anos (no mínimo), serão exatamente deste mesmo jeito.
Gente assim não sabe o que é olhar a alma do outro, saber que é perfumada, colorida, e que é este outro que vai ser seu pra vida inteira.
Gente assim não deve saber, também, que quando olhamos nossos pais, também viajamos no tempo e, pode ter certeza, está se vendo no futuro também.
Gente assim não sabe que a mágica da vida é construir memórias, histórias e que a única passagem pra viajar no tempo, muitas vezes, é a capacidade de se emocionar, e de sorrir."
Por Laura Henriques