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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Viajar no Tempo

 
 
"Tem gente que acha impossível viajar no tempo. Não consigo acreditar, nem entender.
Gente assim, ao que me parece, nunca deve ter sentido cheiro de bolo saindo do forno, porque, para mim, essa é a chave da passagem secreta para voltar à infância.
Gente assim nunca deve ter ligado o rádio do carro, do nada, voltando do trabalho e começado a sorrir, pelo simples fato de que estava tocando a música do seu primeiro beijo. Da valsa de quinze anos. Da primeira fossa. A música que não saia do “repeat” e faz a gente sorrir, pelo simples fato de ter sido a trilha sonora de mágicas férias na praia.
Gente assim nunca viu retrato de família, com vô, vó, cachorro, gato, coelho, passarinho e 367 primos e tios que fizeram uma farra inesquecível, com churrasco e piscina até o sol se por. Daquelas farras de deixar o cabelo duro de tanto cloro, os olhos vermelhos e a vida tão, tão, tão melhor.
Gente assim nunca recebeu abraço de recomeço, porque esse abraço é capaz de apagar, instantaneamente, meses sem conversar e sem se olhar direito, um abraço mágico que faz os últimos 5, 7, 10 ou 20 anos sumirem, num piscar de olhos e sem nenhum “abracadabra”.
Gente assim não sabe o que é reencontrar amigos e, no meio da garrafa de vinho, ter a certeza inabalável, a visão nítida e clara, de que os próximos encontros, pelos próximos 20 anos (no mínimo), serão exatamente deste mesmo jeito.
Gente assim não sabe o que é olhar a alma do outro, saber que é perfumada, colorida, e que é este outro que vai ser seu pra vida inteira.
Gente assim não deve saber, também, que quando olhamos nossos pais, também viajamos no tempo e, pode ter certeza, está se vendo no futuro também.
Gente assim não sabe que a mágica da vida é construir memórias, histórias e que a única passagem pra viajar no tempo, muitas vezes, é a capacidade de se emocionar, e de sorrir."
Por Laura Henriques

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